11º
ENCONTRO NORTE-NORDESTE DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA
“DERRUBANDO
“CORONÉIS” NA TERRA DO SOL: A FORMAÇÃO DOCENTE E SEU PAPEL SÓCIO-POLÍTICO
TRANSFORMADOR”
Maceió
Setembro
de 2013
11º
ENCONTRO NORTE-NORDESTE DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA
“DERRUBANDO
“CORONÉIS” NA TERRA DO SOL: A FORMAÇÃO DOCENTE E SEU PAPEL SÓCIO-POLÍTICO
TRANSFORMADOR”
Projeto
do 11º ENNOEPe
Maceió
Setembro
de 2013
Realização:
v Estudantes
de Pedagogia de Alagoas
Apoio:
v Executiva
Alagoana de Estudantes de Pedagogia- ExAEPe
v Universidade
Federal de Alagoas- UFAL- Campus A.C. Simões
v 1.APRESENTAÇÃO
O ENCONTRO
NORTE-NORDESTE DE ESTUDANTES DE PEDAGOGIA- ENNOEPe, é um espaço
político-acadêmico onde estudantes de Pedagogia das regiões Norte e Nordeste do
país tem a possibilidade de trocarem suas experiências acadêmicas, bem como
discutir as bandeiras de luta do curso, sendo este um espaço deliberativo do
Movimento Estudantil de Pedagogia- MEPe.
Este
ano Maceió sediará o encontro, deliberação ocorrida no 32º Encontro Nacional de
Estudantes de Pedagogia- ENEPe, que foi realizado na cidade de Belém do Pará,
na Universidade Federal do Pará- UFPA, onde apresentamos a proposta e
conseguimos por ampla maioria dos votos sediar este encontro. Após o 32º ENEPe,
estudantes de todo o território alagoano se reuniram para construir o encontro,
e sendo apresentada a proposta de tema, decidiu-se pelo título “ DERRUBANDO “CORONÉIS”
NA TERRA DO SOL: A FORMAÇÃO DOCENTE E SEU PAPEL SÓCIO-POLÍTICO TRANSFORMADOR”, a
ser sediado na Universidade Federal de Alagoas entre os dias 27 de janeiro e 1
de fevereiro de 2014, no Campus A.C. Simões.
A
temática do encontro tem por finalidade provocar e destacar os principais
“coronéis” que ainda existem nos solos nortinos e nordestinos, e que oprimem a
população a gerações, através não apenas do poder político das famílias e suas
oligarquias que mandam e desmandam descaradamente nas ações “políticas”, mas
também a cultura construída e que está impregnada na sociedade, onde coronéis
como o Estado, analfabetismo, machismo, homofobia, despotismo, politicagem,
elitismo oligárquico, sexismo, coronelismo e apadrinhamento compõe uma cultura
de enorme descaso e imposição sobre a população, que cada vez mais sofre e
amplia seu estado enquanto classes marginalizadas e subalternas perante a um
dualismo perverso de uma pequena elite dominante.
Assim,
dando enfoque na formação docente, discutiremos como o papel dxpedagogx, tem
importância na transformação social por uma sociedade onde não existam
“coronéis” que determinam e regram a atual “ordem social”, uma vez que enquanto
agentes sociais, o nosso papel torna-se essencial no rompimento com essa ordem
e basilar no processo de desconstrução no ambiente onde esta ordem se
institucionalizou e é reproduzida a cada dia: a escola.
v 2.OBJETIVOS
- OBJETIVO GERAL:
- Promover e fomentar espaços de discussão sobre a
situação da formação docente e seu papel na atualidade enquanto contribuinte de
um processo de transformação social;
- OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
- Analisar e problematizar as bases legais em âmbito
nacional no que tange as propostas e organização curricular do curso de
Pedagogia;
- Debater sobre as políticas educacionais e seus
objetivos para a Educação Básica;
- Discutir a formação docente perante as políticas
estatais, bem como trocar experiências e informações sobre os currículos
acadêmicos para o nosso curso;
- Fortalecer e ampliar os espaços de discussão sobre
e contra o PNE;
- Refletir a partir dos aspectos culturais, sociais
e políticos, como a escola tem exercido seu papel enquanto instituição de
formação humana.
v 3.EIXOS TEMÁTICOS
Os
eixos temáticos terão como base a proposta de tema do encontro, bem como
situará os Grupos de Trabalho- GT´s do evento. Segue os eixos:
-
Formação Docente;
-
Currículo, Didática e práticas transgressoras;
-
Educação Popular;
-
Estado e Políticas Educacionais;
-
Estudos Culturais e Educação;
-
Educação, Gênero e Sexualidade;
-
Educação e Movimentos Sociais;
-
Educação e Relações Étnico-raciais;
- Movimento Estudantil.
v 4.INTRODUÇÃO
Voltando os
nossos olhares para a nossa região e analisando o seu histórico, percebemos que
a construção da sociedade brasileira em especifico a nordestina, foi traçada e
objetivada por um determinado grupo que já demonstrava interesses específicos,
de acordo com a própria política existente na época.
Logo
no século XVIII, a figura do coronel, antes dono de engenho e que perpetuavam
(e perpetuam) suas famílias no poder, se corporifica então como principal
símbolo de dominação e expressão do poder com mais vigor nas regiões
norte-nordeste. A partir dessa concepção política de divisão territorial e
apropriação oligárquica das nossas terras, criou-se então uma cultura antes de
tudo banhada por um dualismo perverso: dominantes x dominados.
Podemos
e devemos desde já lançar os seguintes questionamentos: por que falar de
coronelismo em nossos tempos? Quais os coronéis que perduram até hoje? Quais os
novos coronéis? O que nós enquanto docentes temos a ver com isso? Para que o
projeto deste encontro discorra sobre estes aspectos históricos e
principalmente sobre estes questionamentos, apresentaremos como a formação
destx agente social (x pedagogx) tem importância na construção de uma mudança
epistemológica social.
v 5.UM BREVE HISTÓRICO: QUEM MANDA
AQUI SOU EU!
Elcio
Gusmão de Verçosagrande pesquisador e educador alagoano, remonta em seus
estudos, como as oligarquias foram introduzidas no Brasil , bem como houve uma
grande influência posteriormente, nas relações interpessoais na educação do
país. O mesmo em uma de suas obras aponta que o próprio passado condena o presente
que temos.
A
invasão das terras caetés ocorreu com mais força na terceira década dos anos
1500, onde as famílias já estavam sendo encaminhadas para territórios em que a
coroa portuguesa já tinha ciência de possibilidade de geração de renda e lucro.
Assim que avistaram em específico os territórios de Pernambuco- Alagoas,
trataram logo de utilizar a mão de obra escrava para o roçado e a apropriação
das terras em lotes familiares.
Assim
o latifúndio e o trabalho escravo tornam-se a base da economia regional, bem
como será o determinante para a organização social vigente até os dias atuais.
É válido destacar que a organização histórica e a formação da identidade do
individuo dominante, passa claramente por uma construção histórica. No
princípio senhor de engenho, posteriormente os coronéis, e por último os
grandes fazendeiros e usineiros que dominam as nossas regiões, de forma
extremamente despótica.
Ou
seja, o fator oligárquico reproduz e ganha mais força década após década,
utilizando de ações e argumentos políticos acima de tudo. Surge então o que Da Matta apud Verçosa
(2006) denomina de ética da identidade ou lealdade vertical, traduzindo no
fenômeno da obediência e do silenciamento, no qual os servos deviam lealdade
aos seus senhores, e que os núcleos familiares eram redentores, mas também
coercivos com aqueles que ousassem desviar da ordem social construída.
Portanto,
a figura do coronel se estabiliza enquanto o representante do poder político,
econômico e social, determinando assim a ordem vigente implantada em nossas
terras. Logo, a formação deste poderio, parte da base familiar e que o pai,
submete todos demais ao seu comando, sendo a referência julgadora para todas as
ocasiões.
6. VIOLÊNCIA xRESISTÊNCIA – HISTÓRIA, CULTURA E
SOCIEDADE
A região
nordeste foi marcada fortemente por este poderio oligárquico desde o período de
sua colonização. Junto com isso e com este dualismo existente entre as classes,
construiu-se um sentimento de revolta e anseio por liberdade e melhoria da
qualidade de vida dos indivíduos que aqui viviam.
Não
é a toa que nestas regiões, surgiram movimentos e organizações que lutaram por
suas vidas, dando seu suor e sangue para que as futuras gerações fossem
libertas de uma escravidão exposta, mas ao mesmo tempo oculta da sociedade
nortina-nordestina. Apropriando-se destes fatos, apresentaremos os coronéis que
semearam a dominação cultural e que até hoje, persistem em assolar e extirpar
vidas e sonhos da nossa população:
6.1- SOBRE RACISMO, NEGRITUDE E SUAS RELAÇÕES SOCIAIS
Sendo parte de uma região onde foi
implantado o regime das capitanias hereditárias, a região nordeste é um
acontecimento econômico que marcouno
roteiro da história da sociedade
brasileira o rapto e a escravidão da pessoa
negrx. Referenciar a historiografia
nordestina, pautada na abordagem das culturas afro-brasileiras e afro-alagoanas
é de fundamental discussão, pois além de trazer elementos culturais
contemplativos de povose elementos constitutivos da memória histórica, devem
ser observadas desde um componente importante do saber local que contribui como também
parte integrante da conjuntura
regional e nacional.
A diversidade da cultura africana é
berço e base fundante da sociedade brasileira, fazendo assim queo coronelismo
tão fortemente identificado na cultural nordestinanão sobreponha a identificação do braço atuante do povo negrx
e sua força para contribuição de um dos
mais significativos símbolos de resistência e luta contra a escravidão do povo
negrx no país, vinda da figura de Aqualtune e de Zumbi dos palmares.
A identidade alagoana tem sua marca gravada na
riqueza cultural, precisa elucidar o papel dxnegrx dentro desta sociedade e sua
atuação como tal, dentro de um contornoque ainda estabelece o perfil econômico
“contemporaneamente agrário’’, ainda pautado nos ideais arcaicos dos coronéis
modernos da sociedade vigente, que tem
sua gênese no período colonial da história do Brasil e se
estabelece nas usinas hodiernas de cana de açúcar.
No contínuo daconjunção étnico-racial,
as tribos indígenas fixaramsua identidade em solo nordestino, muitas delas estabelecidas em
territórios próximos ao Rio São
Francisco, componente da história e da vida do povo nordestino em ambitos
diversos de suas vidas, saberes das práticas aos elementos teóricos
historicizados em canções e cordéis que retratam a literatura do nordeste
através da vivência de uma diversidade de culturas e pessoas.
Esses saberesdevem ser rememorados
e socializados partindo desde a importância do cumprimento da lei 10.639/03 ea
lei 11.645/08 que, respectivamente,obrigam o ensino de histórica da áfrica e
afro-brasileira como também da história dos povos indígenas, como também devem
ser apreendidos como elementos cruciais da sociedade vigente, quebrando
estigmas sociais negativos e referenciando suas contribuições no constructo da
identidade nordestina e nacional.
As práticas
racistas acompanharam os invasores do nosso país através do olhar eurocêntrico.
Ao chegarem ao nordeste brasileiro, primeiro local a sofrer desses males, a
vinda do povo africano promove um divisor para as relações sociais constituídas
no país. Os “motores humanos” dos coroeis de engenho de nossa região,
resistiram durante mais de três séculos a esse período cruel que infelizmente é
reproduzido pelas instituições e práticas do cotidiano. Tendo como maior
exemplo de resistência, o QUILOMBO DOS PALMARES e as figuras de Aqualtune,
Ganga Zumba e Zumbi, só reforçam o quanto a necessidade do reconhecimento pelo
humano e construção de um mundo sem desigualdades, são envolvidas fortemente
pelos aspectos que envolvem as relações raciais.
6.2- CORPOS EM DOMÍNIO: OPRESSÕES E PRECONCEITOS A SEXUALIDADES
E GÊNERO
Além
da questão racial, um marco que atinge não apenas o nordeste, mas, o mundo, são
as relações de gênero que não entendidas como algo identitário do humano,
assume-se o preconceito perante as diferenças sobre orientação sexual ou, por
sexo. Infelizmente nossa região aparece no topo do ranking da violência de
agressão e morte contra mulheres e homossexuais. A estrutura familiar
consolidada no período de colonização e que é reproduzida até hoje, nos expõe
como e qual o papel dos homens e mulheres foram construídos em meio à sociedade
nordestina. A figura do homem enquanto ser mentor e portador da voz e da
verdade é traços bastante contemporâneos. A mulher dita como “sexo frágil”
fraca, incapaz e que deveria se submeter ao homem e cuidar de seus filhos,
também não sumiu do discurso do nosso cotidiano.
O que
nós enquanto futurxseducadorxs temos a ver com isso? Bem, a reprodução dos
papeis sociais transpassa os espaços educativos sem dúvida alguma, bem como
algo que a escola perdeu (ou nunca teve) ao longo de sua história: o debate
sobre a diferença enquanto categoria base de nossa sociedade. Silva (2011)
afirma que a configuração da identidade e a marcação da diferença implicam,
sempre, em algumasoperações que terminam no ato de incluir ou de excluir. Como
vimos, dizer "o que somos" significa também dizer "o que não
somos". A identidade e a diferença se traduzem, assim, em declarações
sobre quem pertence e sobre quem não pertence (coisas pessoais e sociais),
sobre quem está incluído e quem está excluído. Afirmar a identidade significa
demarcar fronteiras, significa fazer distinções entre o que fica dentro e o que
fica fora. A identidade está sempre ligada a uma forte separação entre
"nós" e "eles". Se
tratando do ambiente escolar, existe uma enorme demarcação de fronteiras entre
professor e aluno, e certa dificuldade na construção do dialogo entre os dois.
Uma
didática que envolve essas questões necessita estimular a dinâmica da
perturbação, do questionamento, da subversão e da transgressão entre as
identidades existentes. Uma didática e uma pedagogia da diferença devemser
capazes de ampliar o campo da identidade
para as estratégias que tendem a colocar seu congelamento e sua estabilidade em
xeque: hibridismo, nomadismo, cruzamento de fronteiras, homossexualidade, lesbianidade,
questões sociais e relações étnico raciais ( no caso da educação infantil, a
própria construção do EU como pessoa e agente ativo na sociedade). Trabalhar
com afinidade as questões de identidade, o impensado e o arriscado, o
inexplorado e o ambíguo, em vez do consensual e do assegurado, do conhecido e
do assentado. Ou seja, ultrapassar e romper todas as barreiras do eu existentes
na escola (e que a mesma reproduz essas identificações), para que possamos
pensar no EU não idêntico.
6.3- CULTURA DO SILÊNCIO: OLIGARQUIAS, LATIFÚNDIO E
QUESTÃO AGRÁRIA
Senhores donos da Terra
Juntais vossa rica tralha
Vosso cristal, vossa prata
Luzindo em vossa toalha.
Juntais vossa rica tralha
Vosso cristal, vossa prata
Luzindo em vossa toalha.
Juntais vossos ricos trapos
Senhores Donos de terra
Que os nossos pobres farrapos
Nossa juta e nossa palha
Vêm vindo pelo caminho
Para manchar vosso linho
Com o barro da nossa guerra:
E a nossa guerra não falha!
Nossa guerra forja e funde
O operário e o camponês;
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis
Com seu martelo e seu torno
Sua lima e sua torquês,
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis.
O operário e o camponês;
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis
Com seu martelo e seu torno
Sua lima e sua torquês,
Foi ele quem fez o forno
Onde assa o pão que comeis.
Vinícius de Moraes
Como
vimos anteriormente, a sociedade capitalista está dividida em classes sociais
antagônicas, sendo a classe exploradora (dona dos bancos, fábricas, das
terra-latifundiários) e a classe explorada (o operariado ou proletariado).
Segundo Lênin, o sistema capitalista atinge sua etapa superior, o imperialismo,
a partir do final do século XIX, passando a regime de monopólios, sendo assim,
partilhados os territórios entre as grandes potências capitalistas, sendo divididas
em nações opressoras e oprimidas.
O
imperialismo é o aprofundamento das relações de dominação do capital
monopolista sobre a vida econômica e consiste, em sua essência, na divisão do
mundo entre países opressores e oprimidos, sustentada no domínio do capital
financeiro, na exportação de capitais e na política colonial (LÊNIN apud SOUZA,
2010).
No Brasil, o
desenvolvimento do capitalismo foi marcado por importantes particularidades,
oprimido pelo imperialismo (especialmente o norte-americano), sustenta as mais
atrasadas relações caracterizadas como semifeudais. Atrasada, a nossa sociedade
se divide não apenas em duas classes sociais, burguesia x proletariado, mas
também em latifundiários x camponeses pobres. Esse tipo de capitalismo
engendrado em nosso país é o que Mao Tsetung denominou capitalismo burocrático,
que á a forma que o capitalismo assumiu nos países dominados.
A questão
agrária, no Brasil, está diretamente ligada, não apenas a formação das classes
sociais, como também tem determinado o tipo de Estado “burocrático, corrupto e
sanguinário” (LCP, 2006), sendo este necessário para a manutenção dos
latifundiários, coronéis das terras, no poder, estado estes a serviço do
imperialismo. As terras brasileiras eram de bem comum até a os europeus apossarem-se
das terras no século XVI, em seguida essas terras foram dividas/partilhadas
entre amigos e protegidos seus e em 1850, o Estado institui que a posse da
terra só seria reconhecida através de sua compra com a Lei da Terra. Ao longo
dos anos foi-se formando uma população de camponeses explorados pelos senhores
das terras ao lado dos escravos. Basbaumexplica que na implantação desse novo
sistema confundiam-se e misturavam-se o capitalismo, o escravismo e o
feudalismo.
Basbaum
(1986, p. 140) ressalta que “confundiam-se, neste novo sistema, a empresa
capitalista, o trabalho escravo e a economia feudal”, explicando que esse tipo
diferente de economia criou uma nova classe, que ele chama de “burguesia-feudal
escravocrata”, que se tornara “senhor de todas as coisas e todos os seres, com
poderes de vida e de morte até mesmo sobre os membros de sua família que alguns
autores chamam carinhosamente de patriarcalismo” (apud SOUZA, 2010).
Segundo Souza,
toda essa estrutura semifeudal se mantinha porque além dessa classe ser
proprietária das terras e dos meios de produção, ainda possuía o poder político
para garantir seus interesses. A Lei da Terra apenas vem aprofundar essas
relações feudais.
A alta concentração
de terra no país vem se acentuando na medida em que o capitalismo penetra no
campo. Segundo o IBGE 2006, “As diferenças
verificadas na área dos estabelecimentos agropecuários continuam a caracterizar
a manutenção da desigualdade na distribuição de terra no País nos últimos
censos agropecuários”, dizem os técnicos. Enquanto os estabelecimentos rurais
de menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos
estabelecimentos rurais, a área ocupada pelos estabelecimentos de mais de 1.000
hectares concentra mais de 43% da área total, tendo o maior índice de
concentração de terra em Alagoas.
A alta concentração de terra no Brasil tem contribuído
para a manutenção a agravamento da crise econômico-social historicamente, ao
sustentar esse tipo de capitalismo burocrático, contribuindo decisivamente para
a obtenção de lucros para a burguesia-latifundiários, sendo hoje uma “fonte
geradora da massa de excluídos” (LCP, 2006). Essa exclusão consequente da
concentração de terra tem colocado milhões de famílias de camponeses em
situação de extrema miséria, provocado inchaço nas grandes cidades,
marginalização, fome e violência permanente sobre os pobres do campo.
Os camponeses enfrentam uma sistemática e prolongada
violência do velho Estado reacionário brasileiro junto com os jagunços dos
latifúndios. O quadro abaixo mostra a selvageria da ação repressiva do Estado
combinado com o braço aramado do latifúndio.
Não podemos esquecer uma questão
importante nessa discussão que é o problema indígena, que é o problema de
minorias oprimidas por esse velho Estado de grandes burgueses e latifundiários
serviçais do imperialismo, mas essas populações dos povos originários dessas
terras são resultados de uma heroica resistência contra toda a cultura de
dominação, exploração, destruição e genocídio desse Estado.
Souza (2010) resume a questão agrária em nosso país em
algumas contradições de classe no campo que são o aumento da concentração de
terras e das relações semifeudais, aumento da monocultura e expansão do
latifúndio de novo tipo, expulsão dos camponeses, aparente disputa entre
agricultura camponesa e latifúndio, aumento da violência no campo e crescente
criminalização dos movimentos de luta pela terra.
É necessário destruir completamente o latifúndio em nosso
país, derrubar os coronéis, estabelecer novas relações de produção baseadas na
cooperação, romper com o elo de dominação que oprime nosso povo, rechaçar a
intervenção e controle exercido pelo Estado e construir a Nova Democracia
libertando nosso povo da exploração e opressão.
O que teme o
imperialismo? Teme a Revolução, a guerra popular, pois o campesinato provou
historicamente sua combatividade e capacidade revolucionária. E num país
semicolonial e semifeudal é uma força fundamental para desencadear esse
processo. (SOUZA, 2010).
v
7.ASPECTOS
POLÍTICOS: AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS SOB O COMANDO DE (VELHOS) NOVOS CORONÉIS
Autores
como (LEHER, 2012; LIBÂNEO, 2011; OLIVEIRA, 2006), apontam sobre o perigo da
influência das políticas e dos financiamentos do Banco Mundial e suas
intervenções nas políticas educacionais em vários projetos. Cabe-nos, portanto,
nos questionar: qual o interesse do Banco Mundial na educação? Por que o Estado
é utilizado como aparato naimplementação de suas orientações e políticas? Leher(2012,
p.25), argumenta que:
A educação é o maior instrumento
para o desenvolvimento econômico e social. Ela é central na estratégia do Banco
Mundial para ajudar os países a reduzir a pobreza e promover níveis de vida
para o crescimento sustentável e investimento no povo. Essa dupla estratégia
requer a promoção do uso produtivo do trabalho (o principal bem do pobre) e
proporcionar serviços sociais para o pobre.
É
preocupante verificarmos que a educação está sendo norteada e financiada por
órgãos que visam à lógica e a reprodução do capital (TORRES, 2006). O Programa
Geração Saber é signatário, em termos de diretrizes e normas, das prerrogativas
e orientações do Banco Mundial e da Declaração de Jontiem – “Compromisso Todos pela Educação”, ao
constituir-se enquanto uma política educacional de mobilização de toda a
sociedade em prol da educação (ALAGOAS, 2009, p.7). Além dos organismos já
supracitados, recebe financiamento, principalmente, do PNUD, ao atender as suas
orientações e seguir seu receituário. Esta não serve de base apenas para o
Programa Geração Saber de Alagoas, mas, para toda a política desenvolvimentista
do país, isto em virtude de que o Brasil tem uma das principais secretarias do
PNUD em todo o mundo, servindo esta como modelo para os demais países
periféricos (MACHADO; PAMPLONA, 2010).
Dessa forma é possível afirmar que as relações econômicas e
políticas estão sendo articuladas dentro do aparelho estatal, sendo o Estado a
ponte de ligação entre os órgãos políticos e sociais e os organismos de
financiamento, quando se trata do planejamento e construção de programas e
planos. Figueiredo nos aponta que:
[...] a dinâmica da relação
econômico-política, que perpassa as negociações e envolvem os interesses
nacionais e internacionais, inclui a participação dos estados no processo, para
justamente definir as ações que estão condicionadas às orientações e propostas
prescritas pelo Banco Mundial. (FIGUEIREDO, 2009, p.1127).
Assim, os estados são utilizados como base para a
implementação das políticas do Banco Mundial, lembrando que essa conjuntura de
influência de tais organismos deve-se a acontecimentos que envolvem as
políticas educacionais em âmbito mundial como a Conferência de Jontiem e o
Consenso de Washington. Este consenso permitiu que organismos como o Banco
Mundial realizassem relatórios com indicadores sociais, políticos, ideológicos
e econômicos para a educação (ROBERTTSON, 2012). Além deste fato, os programas
ditos educacionais surgem em meio a crises econômicas em determinadas regiões
ou em escalas nacionais e internacionais, sendo um instrumento do Banco Mundial
de fortificar a política neoliberal como argumenta Roberttson (2012, p. 295).
O estado neoliberal
atribui essa ideologia e prática, se apoiando em instituições da Terceira Via,
isentando-se de sua responsabilidade e compromisso com o social e opúblico,
deixando-se invadir por uma lógica privatista e mercadológica, norteada por
organismos financiadores, sendo manipulado e manipulando toda uma massa,através
de seus programas e projetos em áreas diversas de interesse e compromisso
público.
A partir do
momento em que o estado possibilita a entrada do Terceiro Setor, mormente, na
área da educação, a apropriação mercadológica se concretiza e se corporifica
nas próprias políticas educacionais. A visão privada subverte a pública, como
expõe Fernandes apudPeroni (2011,
p.28) o Terceiro Setor designa “um conjunto de iniciativas particulares com um
sentido público”.As parcerias estatais com organizações não governamentais para
cumprir atividades do Estado se caracterizam como política afirmativa da
ideologia neoliberal, impossibilitando a democracia na educação e a garantia de
princípios educacionais verdadeiramente democráticos e sociais.
v 7.1- NOSSA FORMAÇÃO EM JOGO:
PEDAGOGIA PARA...
(FICA OU SAI???)
8.REFERÊNCIAS
A luta camponesa se
prepara para entrar numa nova etapa.
Disponível em: http://resistenciacamponesa.com/jornal-resistencia-camponesa/edicao-n-19/431-a-luta-camponesa-se-prepara-para-entrar-numa-nova-etapa?highlight=YToxMTp7aTowO3M6MTQ6ImNvbmNlbnRyYcOnw6NvIjtpOjE7czoyOiJkZSI7aToyO3M6NToidGVycmEiO2k6MztzOjI6ImRvIjtpOjQ7czo2OiJicmFzaWwiO2k6NTtzOjE3OiJjb25jZW50cmHDp8OjbyBkZSI7aTo2O3M6MjM6ImNvbmNlbnRyYcOnw6NvIGRlIHRlcnJhIjtpOjc7czo4OiJkZSB0ZXJyYSI7aTo4O3M6MTE6ImRlIHRlcnJhIGRvIjtpOjk7czo4OiJ0ZXJyYSBkbyI7aToxMDtzOjk6ImRvIGJyYXNpbCI7fQ==.
Acesso em: 20 nov. 2013
Brasil agrário
retratado pelo Censo Agropecuário 2006. Disponível em: Acesso em: 20 nov. 2013
SOUZA, Marilsa Miranda de.Imperialismo
e educação do campo: uma análise das políticas educacionais no Estado de
Rondônia a partir de 1990.Tese
(Doutorado em Educação Escolar) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Letras, Campus de Araraquara, 2010.
LEHER, Roberto. Um novo senhor da educação? A política
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Disponível em:
http://xa.yimg.com/kq/groups/23657956/1112812656/name/Leher-Um+novo+senhor+da+educa%C3%A7%C3%A3o.pdf
LIBÂNEO, José Carlos. O
dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para
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21, 2011. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151797022011005000001&lang=pt.
Acessado em: Dezembro de 2011.
LIGA DOS CAMPONESES
POBRES. Nosso caminho. Goiânia: Coordenação das Ligas de Camponeses Pobres,
2006.
NEVES, Lúcia Maria Wanderley. A nova pedagogia da
hegemonia:estratégias do capital para educar o consenso. São Paulo. Ed:
Xamã, 2005. ISBN: 85-7587-047-5.
OLIVEIRA, R. Agências
Multilaterais e a educação profissional brasileira. São Paulo: Alínea,
2006.
PERONI, Vera. Políticas Educacionais em tempos de
redefinições no papel do Estado: implicações para a democratização da educação.
Organizadores: Vera Maria Vidal Peroni e Alexandre José Rossi. - Porto Alegre: Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRGS, Gráfica e Editora UFPEL, 2011.
ROBERTTSON, Susan L. A estranha não morte da privatização neoliberal na Estratégia 2020 para a educação do
Banco Mundial. Revista Brasileira de Educação- Ago. 2012. Disponível em :http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v17n50/v17n50a03.pdf.
Acessado em janeiro de 2013.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos
de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte:
Autêntica, 1999.
VERÇOSA, Elcio de Gusmão. Cultura e Educação nas Alagoas: história
/ histórias. 3ª ed. Maceió: EDUFAL, 2001.
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